Flechada Pelas Costas
A Fêmea de cabelos vermelhos havia atirado uma flecha nas costas do Bardo, a dor era
insuportável.
Ele ficou olhando-os irem embora enquanto enchiam o estranho veículo
com as pessoas mutiladas, o cheiro de carne queimada era insuportável.
O Bardo sentiu suas ultimas forças o abandonar e a vista escurecer...
Ele não sabe quanto tempo passou... Ou se passou.
Parte 3 - A estranha Criatura
E lá estava o pobre Bardo pego pelo destino, deitado, corpo inerte sem saber o que aconteceu ou o que O havia atingido tão fortemente as suas costas.
Sua carne tremula, o corpo pesado joagdo no chão como se ele estivesse colado ou preso por um ímã. Ouvia passos ao seu lado, apressados, andando para todos os lados, pessoas gritando, sons estranhos, rangidos de aço, de ferro, sons assustadoramente estridentes, uivos.
Ele estava de olhos fechados como que preso ali no solo, mas ouvia tudo ao seu redor.
A dor era lancinante parecia que lanças o retalhavam e lhe arrancavam a alma. Sentia algo quente escorrer por seu corpo, descendo pela lateral indo empoçar no seu abdômen.
O Bardo continuava ali, pessoas passavam por cima dele, esbarravam no corpo, pisavam suas mãos que estavam estendidas para frente. E ele continuava imóvel de olhos fechados. Não podia fazer nada! Não conseguia nem se mover que dirá levantar-se.
O Bardo ouviu sons estranhos que destroçavam sua cabeça, pareciam roncos de partida, veículos indo embora. Ele não sabe se realmente eram veículos ou não, apenas ouvia sons que pareciam estourar seus miolos.
Os sons se misturavam em sua cabeça, ensurdecedores, fortes, luzes piscando clareavam e escureciam seus olhos fechados. E ali continuava o Bardo colado no chão, com a lucidez que lhe restava, ele se perguntava:
- Será que isso é a morte? O inferno que tanto falam?...
De repente ele não ouve mais nada nem mesmo a sua respiração, não sentiu mais dor... Nada!
Um silêncio gritante que surgiu do nada e pareceram eternos.
Ao recobrar a consciência, abre os olhos com muito custo e a escuridão invade, nem mesmo uma fresta de luz, apenas breu total. Sua mente está turva, ele busca respostas no fundo de sua alma.
- O que é isso? Onde estou? Que lugar será esse?
São perguntas desconexas, porque ele não sabe qual a sua existência, não se conhece, algo em seu íntimo começa a se desesperar quando sente uma luz fraca invadir o local. Claridade mórbida que ofuscam seus olhos acostumando-se com a escuridão e vai clareando aos pouquinhos, tenta fazer o reconhecimento visual do lugar, não consegue, não é familiar para ele. O Bardo não sabe quem é não se lembra!
Agora que consegue ver parece assustar mais que antes, o lugar é pobre, escuro, com cheiro de mofo, Olha para todos os lados precisa reconhecer saber onde se está.
Tenta levantar-se sente uma dor horrível lhe cortar todo o espinhal e volta a deitar, não pode mover as pernas, encolher e esticar, por que a dor é muito forte.
O Bardo tem sede, ao lado na cama em um criado mudo improvisado com um caixote tem água em uma garrafa de plástico e um copo descartável, ele tenta pegar, mas não consegue chegar até a água. Tenta... Derruba a garrafa.
A dor é forte muito forte!
Ele não conseguiu beber água e a sede é muito grande, mas ele está quase imóvel.
De repente ouve barulho e pensa:
- Quem será? Devo temer ou ficar feliz por ter alguém que pode me servir um copo d’água?
Será que estou em um covil de bruxos? O que será que faço aqui? O que será que estou fazendo aqui sozinho?
Talvez saibam o que aconteceu comigo, por que dói tanto?
Perguntas e mais perguntas que ninguém pode lhes responder.
O Bardo vê entrar no local uma figura grande que cobre a fresta de luz deixando tudo no escuro outra vez.
Vem chegando para junto dele, conforme a criatura enorme se move descobre e cobre a fresta de luz, e numa dessas vezes o bardo vê que ele tem uma faca em uma das mãos... Instintivamente ele fecha os olhos fingindo dormir, sente a criatura se aproximando, passos pesados, assustado o Bardo que nem consegue controlar os pensamentos, em outra ocasião ele ficaria inerte e assim que o grandalhão chegasse perto ele o imobilizaria com suas habilidades, mas ele nem sabe que as possui.
Então pensa – vou morrer agora! Mas é melhor mesmo isso dói tanto; A criatura chega bem perto retira os panos que cobrem o Bardo... Ele sente o aço frio da faca encostar-se ao seu pescoço e não consegue nem fazer suas ultimas orações, se arrepende de ter pensado que seria melhor morrer, toda sua vida passa diante de seus olhos e o Bardo sente medo da morte. Ele não quer morrer ainda... Precisa muito saber da vida, não quer morrer sem uma identidade, sem saber se alguém sentiria sua falta.
Se ele soubesse que tanta gente espera por suas canções, sua s histórias, seus feitos heroicos, suas lendas.
As outras coisas que ele faz, muitos não sabem o Bardo é um Mago!
A criatura desce a faca um pouco, mais um pouco arrastando pelo peito do ferido bardo que continua imóvel, nem ele sabe de onde retirou tanta destreza com seu próprio corpo, mas suas carnes tremem quando ele sente a faca bem em cima de seu coração.
E para surpresa do Bardo a criatura enfia a faca rente a sua pele tremula e corta, corta, corta até a suas virilhas, os farrapos usados como ataduras... Vira o Bardo de bruços, enfia a mão em um recipiente que ele trazia consigo feito de peles e que o Bardo ainda não tinha visto pela escuridão do local e passa sobre as feridas nas costas, quase no meio acima um pouco da cintura e uns cinco centímetros da sua coluna cervical, o que o salvou de paraplegia ou tetraplegia. A criatura limpou, limpou, o unguento fazia arder muito e num descuido o bardo Gemeu.
A criatura se afastou num salto, o Bardo tentou ver quem era, mas o breu do local não permitiu, a criatura se afasta mais e mais andando de costas com seus passos pesados.
O Bardo não sabe quanto tempo passa, queria somente que essa dor insuportável e o ardor pela droga usada tivesse fim. Ele não consegue voltar à posição anterior que era mais cômoda. A dor é tão forte que ele perde os sentidos. Quando os recobra percebe que alguém bem grande envolto em um manto, chega bem perto dele.

No dia seguinte o Sol vem forte! As várias frestas da janela, da porta e do telhado despencado, deixam entrar os raios do sol que teimoso veio cumprimentar o ferido, irradiando-se por onde podia. A dor está mais fraca, mas ele ainda não pode se mexer muito. Na mesinha improvisada está a tão desejada garrafa d’água. O bardo aproveitando que diminuiu a dor tenta levantar para tomar um pouco de água.
Enquanto se esforçava quase caindo da cama ouviu passos... Com esforço sobre-humano voltou à posição para que não percebam que ele está acordado, não queria ser pego desprevenido. O bardo fica quieto, imóvel de olhos fechados. Sente a presença de alguém que chegou do seu lado, o Bardo vai abrindo os olhos bem devagar... Olhando-o com afeição estão dois grandes olhos brancos de um ser enorme coberto com um manto de capuz. O bardo tenta dizer algo mais o ser cobre-lhe a boca com sua mão enorme com garras tão grandes quanto. O bardo arregala os olhos, está apavorado, não pode se mover direito e este ser tem quase o dobro do seu tamanho.
Continua...